Como ter uma CIPA atuante: reforço positivo e outras técnicas matadoras
Como ter uma CIPA atuante? É possível ter uma CIPA atuante? Sim, claro que é! Nesse artigo trarei provas disso, e mais te mostrarei como ajustar o caminho da sua.
A CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) é uma comissão formada para ajudar ou conduzir as ações de prevenção de acidentes e doenças no trabalho.
Qualquer comissão só é tida como eficiente se possuir vitalidade suficiente para se movimentar. Fazendo coisas que a levem na direção do resultado esperado.
Enquanto o sonho de alguns profissionais de segurança do trabalho é que alguém atualize a NR 5 e acabe com a CIPA, outros sonham em ter uma CIPA atuante, que atraia pessoas verdadeiramente dispostas a trabalhar nas ações de SST. Gente que diga, por exemplo, “pelo amor de Deus, me ponha na CIPA porque fazer parte disso”.
Mesmo sendo uma exigência legal, podemos utilizar a CIPA existente como um ambiente para ampliar a maturidade da cultura de segurança da empresa.
Nesse artigo abordaremos estratégias para tornar a CIPA mais produtiva e eficiente.
ENTENDA QUAL É O PONTO MÉDIO E MELHORE-O
As pessoas são a medíocres! Ops. Não estou ofendendo ninguém, ok? Até porque eu também sou…
Medíocre quer dizer apenas que algo está na média. No livro o “O Andar do Bêbado” (e sim, sei que o nome não ajuda. Mas saiba que ele é um dos melhores livros de ciência que existe) o autor lembra que “somos fruto da média”.
Em qualquer equipe tem gente que performa muito bem, outras que performam muito mal, mas “a maioria está na média”. Segundo o autor do livro qualquer desempenho especialmente bom ou ruim será, em sua maior parte, uma questão de sorte.
É importante que você entenda qual é a média de comportamento da sua CIPA. Na média, ou seja, a maioria, eles participam das reuniões? A maioria participa das análises de acidente? A maioria faz inspeções de segurança? A maioria executa as ações designadas a ele?
Se você esquecer as performances destoantes (acima ou abaixo) e trabalhar focado em melhorar a participação média nas ações da CIPA já terá contribuído assustadoramente para ter uma CIPA que entrega mais resultado.
APRECIE E DÊ RESPOSTAS ÀS DELIBERAÇÕES DA CIPA
Na maioria das empresas o que é “decidido nas reuniões ordinárias da CIPA” e “nada” são a mesma coisa! Isso porque o único valor da ata é servir de arquivo, é apenas cumprimento legal, como a NR 5 determina. A ata de reunião depois de assinada vai para a gaveta do arquivo, para que “em qualquer eventualidade” possa ser apresentada a fiscalização do trabalho.
Boa parte das atas sequer chega na mão de quem tem poder de decisão para poder ajudar a CIPA a realmente mudar o ambiente de trabalho.
Como os profissionais de segurança querem ter uma CIPA ativa, se sequer apreciam/observam o trabalho feito por ela?
Como o cipeiro se sentirá motivado a participar de 12 reuniões anuais, sabendo que de nenhuma delas sairá algo prático?
No mínimo a CIPA merece resposta para cada uma das propostas descritas nas atas por ela emitida. Mas como isso poderá ser possível se a ata não chegar à mão de quem assina o cheque?
É importante que alguém que represente o empregador ou o SESMT participe de algumas das reuniões da CIPA para dar resposta sobre o que foi solicitado por ela. Mas Nestor, a empresa não dá ouvidos ao que a CIPA determina!
E se você perceber valor na sugestão da CIPA, e endossar ao empregador o pedido dela, ainda assim não seria ouvida?
Meses atrás fui a um shopping na cidade de Goiânia. Sentei numa cadeira na praça de alimentação e fiquei viajando nos pensamentos. Notando um restaurante muito conhecido, o Burguer King, fiquei pensando sobre o retorno financeiro das franquias…
Segundo o próprio site da Burger King, para abrir um restaurante, o franqueado (o empresário, o investidor) tem que pagar entre 1,7 a 5 milhões de Reais para franqueadora (e gente pensando que ser empregador é fácil), é mole?
Fiquei pensando em quanto tempo a pessoa corajosa que investiu tudo isso demora para começar a ter lucro?
No site https://novonegocio.com.br/franquias/franquia-burger-king/ encontrei sobre o tempo de retorno do restaurante. Conforme o site:
“O retorno da franquia diz respeito há quanto tempo a unidade demora a cobrir todos os gastos que foram realizados na sua abertura. Segundo a empresa, o retorno acontece entre 24 e 36 meses de operações, desde que todos os padrões de administração sejam seguidos à risca”.
Normalmente o tempo de retorno de investimento de qualquer negócio gira em torno de 3 a 4 anos.
Nestor, o que tempo de retorno tem haver com a CIPA?
O tempo de retorno tem haver com o uso de recursos financeiro da empresa como um todo. O empregador enxerga o negócio dele sem romantismo. Até porque mesmo um restaurante pequeno como uma “lojinha de hambúrgueres” custa bem caro.
Para o empregador o jogo é simples, investimento tem que dar retorno. Para ele investir financeiramente precisará ter certeza do retorno financeiro, caso contrário investimentos não deem retorno, o negócio simplesmente não sobrevive.
Você tem feito levantamento de custos (ou na sua empresa tem algum setor específico para isso) para os investimentos em SST?
E se você ensinar a CIPA a fazer levantamento de custo (que a empresa terá para implementar o que foi pedido por ela), ou fazer isso você mesmo, e depois apresentar à empresa?
Para avaliar se vale a pena o investimento solicitado pela CIPA, líderes e mesmo o profissional de segurança precisam levantar o tempo de retorno para todo e qualquer investimento ligado à segurança do trabalho.
O mais importante é nunca deixar a CIPA sem reposta. Se o que foi solicitado por ela não foi ou não será resolvido, ela precisa pelo menos saber que não será, e saber razão por trás da negativa.
TREINAMENTO E ACOMPANHAMENTO CONSTANTE
Imagine que você tem uma bicicleta novinha, a cor dela é azul metálico, possui um passador de marcha de última geração, foi construída com um material leve. Você consegue erguê-la com dois dedos da mão. Vamos supor que esse é um “brinquedo” que você sempre quis.
Vamos pensar que na semana passada um novo vizinho se mudou para o lado da sua casa. Você e a família dele são muito próximas, e por consequência, você começa a gostar a amizade do novo vizinho também.
E sabe o novo vizinho, ele quer andar na sua bicicleta nova… O problema é que ele nunca tinha visto uma bicicleta antes, ele nunca andou de bicicleta… Você emprestaria sua bicicleta dos sonhos para ele? Vamos pensar que como as famílias são próximas, vocês sempre emprestam coisas entre si. E claro que você sabe que se não emprestar poderá ficar mal com a família dele.
Ei, mas não seja tão exigente, antes de entregar o brinquedo você poderá dar a ele uma aula de como andar de bicicleta. Ele e todos concordaram com isso!
No nosso exemplo, você poderia dar 2 horas de aula para o seu amigo andar na sua bicicleta, teria 2 horas de duração, mas é só uma aula e nada mais. Se ele aprender ou não, depois dessa aula terá que entregar sua bicicleta, ele não poderá emprestar a ninguém, mas ficará com ela durante 3 horas, e conduzi-la como quiser.
Ah Nestor, mas é impossível aprender a andar de bicicleta com apenas 2 horas de aula! Então deixa eu te perguntar, em 20 horas de treinamento é possível ensinar segurança do trabalho para alguém, a ponto de que essa pessoa ou grupo de pessoas se torne um gestor na área de SST?
Muitos profissionais acreditam que com 20 horas de treinamento (e quando realmente fazem 20) dá para fazer pessoas sem qualquer experiência em SST se tornarem gestores na área… Não é para isso que serve o treinamento de 20 horas da CIPA?
Você acredita que em 20 horas de treinamento é possível ensinar alguém a:
a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores;
b) elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho;
c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho;
d) realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho visando a identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores;
e) realizar reunião mensal, e a cada reunião, avaliar o cumprimento das metas fixadas no plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas;
f) divulgar segurança do trabalho aos trabalhadores;
g) participar das discussões promovidas pelo empregador, para avaliar os impactos de alterações no ambiente e processo de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores;
h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores;
i) colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA/PGR e de outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho;
j) divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras relativas à segurança e saúde no trabalho;
l) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados;
m) requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores;
o) promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho – SIPAT;
E então, o que me diz? É possível ensinar tudo na teoria e prática em 20 horas?
É claro que não é possível ensinar tudo isso em 20 horas. É possível apresentar esse conteúdo, mas ensinar para alguém aplicar, não. E também não defendo que o treinamento de CIPA tenha mais de 20 horas, isso não adiantaria. Se muitas empresas já burlam a carga horária de 20 horas, imagine se fossem 30 ou 40?
Para ter uma CIPA atuante, o que defendemos é que o treinamento de 20 horas não seja a única iniciativa voltada ao treinamento/ensinamento da sua CIPA.
Periodicamente o profissional de SST ou qualquer outro líder da empresa deve treinar a CIPA, e nesse caso deve ser um ensinamento pontual, e baseado nas necessidades dela.
Se, por exemplo, a CIPA tem dificuldade fazer análise de risco, um treinamento de 2 horas mostrando a análise de risco na prática poderá trazer resultados incríveis! Nesse caso treinamentos menores viriam sempre como um complemento ao treinamento de 20 horas.
Essa proximidade com a comissão certamente fará com que a CIPA se sinta mais importante e valorizada, e nesse cenário os resultados tendem a vir naturalmente. Virão com o tempo e com a manutenção desse tipo de proximidade.
DÊ TRABALHO PARA A CIPA
Acima mostramos as atribuições da CIPA e para cumprir essas atribuições e necessário um plano de trabalho.
O plano de trabalho existe para definir o trabalho que deverá ser realizado, porque deve ser realizado, onde deve ser realizado e quando deve ser realizado (colocar os custos também é importante).
É curioso que muitos profissionais cobram que a CIPA trabalhe (fazer inspeção de risco, análise de acidentes, etc.), mas não a ensinam nem por onde começar.
Sua CIPA tem plano de trabalho definido? Se não tiver, que tal começar por ele?
PUNIR O CIPEIRO POR INATIVIDADE FUNCIONA?
Você está vindo da feira com várias sacolas cheias de frutas e verduras para a família toda, um peso danado. Daí uma pessoa que sabe onde você mora te oferece ajuda, e você aceita. Se essa pessoa (que voluntariamente te ofereceu ajuda) deixa uma de suas sacolas cair você a criticará ou a punirá por isso?
A CIPA é formada por pessoas voluntárias. Não é justo punir os membros de CIPA por inatividade. Até porque normalmente essa inatividade tem muito mais haver com a composição e os estímulos que a CIPA recebe ou deveria receber, do que com apenas sua vontade ou falta de vontade em fazer a diferença.
Se a CIPA na sua empresa não funciona, avalie sua fundação, e também se ela possui estímulos para funcionar.
COMO UTILIZAR O REFORÇO POSITIVO NA CIPA?
Existem vários tipos de reforços simples que podemos utilizar para estimular a CIPA a ser mais produtiva. Reforços que envolvem apenas a comunicação, e reforços que podem ser feitos através de objetos simbólicos de valor. Listaremos vários deles aqui nesse artigo.
REFORÇO POSITIVO
Nós somos movidos pelas consequências, e quando a consequência é positiva, tende a se tornar um reforçador, isso se torna um motivador incrível! É claro que o reforço positivo pode ser dado de forma planejada. Na intenção de mostrar a alguém que o comportamento dele é desejável.
O autor Aubrey Daniels no livro Bringing Out the Best in People (Trazendo o melhor nas pessoas) descreve que o reforço positivo tem 4 vezes mais força do que a punição.
É claro que fazer uma CIPA que está morta, inativa se tornar ativa depende de mudanças, em muitos casos é preciso até mesmo mudar a crença dos próprios cipeiros, afinal, eles perderam a esperança de fazer a comissão funcionar. Pessoas só resistem a mudança que não lhe trouxer consequências positivas, de preferência, imediatas!
Qual a consequência a sua empresa desprende para o cipeiro que se esforça para ter uma CIPA eficiente?
Quando a empresa não responde aos esforços de qualquer empregado, isso tende a minar até a confiança de que ele está fazendo o certo. De que esse é o comportamento esperado pela organização.
O principal valor do reforço positivo está relacionado com a autoestima e a autoconfiança que são desenvolvidas nas pessoas reconhecidas.
Quando o cipeiro faz um bom trabalho e recebe feedback positivo, ele passa a confiar mais em si mesmo, pois vê que está indo pelo caminho certo e, mais do que isso, que tem alguém que percebe! Essa atitude normalmente faz uma grande diferença no comportamento e comprometimento do membro da CIPA.
O feedback constante faz com que um comportamento isolado se transforme em um hábito.
COMO O FEEDBACK OU REFORÇO POSITIVO FUNCIONA?
O reforço positivo pode assumir formas variadas que vão desde um “que ótima ideia”, “que fantástico isso que você fez, continue assim”, “muito obrigado pelo seu esforço na execução desse trabalho, você realmente nos ajudou muito”, “você fez a sua parte, parabéns pela iniciativa, precisamos de mais gente como você”, algumas empresas também dão bonificações, aumentos, ingressos de cinema, etc.
E um país como o Brasil, de calor humano, onde o “olho no olho” e muito importante, muitas empresas conseguem excelentes resultados através de reforço baseado no feedback positivo.
NÃO SEJA ARTIFICIAL OU MENTIROSO
Não reconheça positivamente um comportamento natural como ir ao banheiro, beber água ou coisa do tipo. Merece reconhecimento quem faz algo realmente marcante, algo que a maioria não faz.
O Walmart, por exemplo, possui o programa “Tell me something good!” (Me diga algo bom), em que cada membro da organização pode reportar bons trabalhos que são executados por seus empregados.
O Bank of America possui um programa que utiliza cartões eletrônicos de “muito obrigado” para que a alta direção reconheça os esforços dos empregados.
A Fini Alimentos descobriu o seu caminho para ter uma CIPA atuante (vídeo abaixo), e assim, diminuiu os acidentes de trabalho em 70%, e muito disso ocorreu através do trabalho da CIPA.
Nesse assunto de como ter uma CIPA atuante, eu poderia descrever mais algumas dezenas de empresas aqui, mas creio que já é suficiente para embasar a ideia que podemos moldar o contexto de trabalho para favorecer o fortalecimento de comportamentos seguros.
O reconhecimento ou feedback chão de fábrica x chão de fábrica, líderes x chão de fábrica ou até chão de fábrica x líder, possuem um poder avassalador! Isso mostra porque em setores onde os líderes cuidam ativamente das pessoas, os trabalhadores são 67% mais engajados no trabalho.
Apresentamos nesse artigo várias estratégias para tornar a CIPA mais produtiva. E se precisar de ajuda, podemos falar sobre o programa CIPA Extraordinária. E então, vamos fazer diferente para fazer a diferença?
Bibliografia:
Livro: O Andar de Bêbado, página 15. Autor: Leonard Mlodinow
Livro: 1501 Ways to Reward Employees: Low-Cost and No-Cost Ideas. Autor: Bob Nelson
Artigo: 4 Competências para o líder eficiente em segurança