Como melhorar a percepção de risco do trabalhador
Como melhorar a percepção de risco? É possível melhorar a percepção de risco? Sim é possível. Nesse artigo trazemos aspectos práticos e altamente eficazes para melhorar a percepção de risco.
A percepção de risco não é algo fixo, não é constante e varia de pessoa para pessoa, e varia também pelo contexto de trabalho.
O QUE NÃO FUNCIONA QUANDO SE FALA EM PERCEPÇÃO DE RISCO
Dizer para o trabalhador ficar focado no trabalho: É impossível ficar focado o tempo todo. Mesmo se o trabalhador tentar manter os olhos na tarefa o tempo todo, ele não conseguirá, sabe porquê? Porque é humanamente impossível!
O colega Carlos Massera costuma dizer que todos nós passamos pelo menos 5 minutos por hora em estado de zumbi, ou seja, estamos presentes fisicamente, mas com a consciência longe do local onde o corpo está.
Encher a empresa de placas: placas são comunicação fria. A comunicação funciona melhor quando é algo pessoal. O SAFE Diálogo, por exemplo, é uma ferramenta que possui muito mais impacto.
Placas não resolvem o problema. Até porque quando o trabalhador fica familiarizado (habituado) a placa, ela perde o seu valor, porque ele não mais prestará atenção nela.
Focar no trabalhador e esquecer as condições do ambiente de trabalho (mesmo a psicológica): ato inseguro, desvios, irresponsabilidade, fator pessoal de insegurança, etc. Existe dezenas de rótulos, e todos eles são inúteis, afinal, não levam a nenhuma ação concreta.
ENTENDER AS POSSIVEIS FALHAS NA PERCEPÇÃO DE RISCO
O termo percepção de risco é um tanto genérico, ele explica muito, mas não explica nada!
Podemos dizer que percepção de risco no trabalho, é o ato de perceber o risco, e para perceber o risco no ambiente de trabalho, o trabalhador pensa nas consequências (positivas ou negativas) e a probabilidade de tais consequências.
É preciso ir além do simples conceito de falha na percepção de risco, é preciso entender quais foram os comportamentos, omissões, desvios que ocorreram, para agir de forma inteligente e direcionada, evitando a perda de tempo e recursos.
ANÁLIZE DA CULTURA DE SEGURANÇA
A análise da maturidade da cultura de segurança é uma ferramenta muito interessante para entender em quais pontos, a organização precisa definir ou revisar sua estratégia de gestão de riscos.
Os itens apresentados nesse artigo, e outros como fadiga, ansiedade, pressão por produção, novo na tarefa, cores do ambiente de trabalho e outros, podem afetar a percepção de risco, e pode ser descoberto através de uma análise da maturidade da cultura de segurança.
REVISAR A FORMA COMO A LIDERANÇA COMUNICA SEGURANÇA
Para melhorar a percepção de risco, é importante entender como a liderança da empresa comunica a segurança do trabalho.
Quando o trabalhador cumpre o dever do trabalho seguro, não é porque o Técnico de Segurança quer, mas porque ele entende, que esse é o comportamento que a liderança espera dele, inclusive para manutenção do seu emprego.
Quando a liderança não se envolve nas ações e comunicações de segurança, dificilmente será possível conseguir a adesão dos trabalhadores.
INVESTIR NO CUIDADO ATIVO
Existem duas coisas certas na vida, uma é a morte, e a outra é que vamos errar! Se quando errarmos podermos contar com o apoio do colega ao lado para uma intervenção positiva, pode ser de grande valia.
Embora pareça muito simples fazer uma intervenção positiva há um grande obstáculo a ser superado para implementação deste tipo de cultura, geralmente as pessoas não percebem o cuidado com bons olhos.
“Cuida sua vida”, “quer cuidar de duas vidas? Se case”, “Da minha vida cuido eu”… Essas são algumas frases que pessoas podem dizer quando são cuidadas no trabalho.
A Juliana Bley em seu livro Comportamento Seguro, descreve que existem 3 tipos de cuidado ativo, cuidar de si, cuidar do outro e deixar ser cuidado.
Cuidar de si: se refere a capacidade de cuidar de si mesmo, afinal, se um empregado não utiliza os EPIs como poderá estimular os colegas a utilizar?
Cuidar do outro: se sabermos que um operador nunca utilizou os óculos de segurança nos seus 20 anos de trabalho, pedir que ele utilize pode ser bem mais complicado do que parece.
O cuidado ativo requer o interesse genuíno no bem estar do próximo. Requer também saber abordar o outro positivamente.
Por exemplo, se um trabalhador percebe que o outro não está utilizando protetor auditivo, ele poderá dizer “Oi João, notei que você está utilizando a botina, e o óculos de segurança, parabéns! Só falta utilizar também o protetor auditivo para ganhar um 10!”. Percebe o quanto essa abordagem é leve e dificilmente incomodará o abordado?
Se deixar cuidar: qualquer mudança exige abertura para a mudança. Sem abertura é impossível que a mudança aconteça.
É importante que a empresa ensine que “se deixar cuidar” é parte importante das iniciativas do empregado para se manter empregado. Outra coisa que a empresa pode fazer é criar espaço e estimular o convívio amistoso entre os empregados, para que seja criado o que chamamos de “sentido de comunidade ou sentido de pertencimento”.
O grande desafio do cuidado ativo é alimentar a liberdade de um abordar o outro, e também de alimentar a harmonia entre o time para que o cuidado seja possível. Treinamentos, passar tempo juntos, criar o sentido de comunidade, tudo isso pode ajudar.
EDUCAR NOS PRINCÍPIOS DO HOP (HUMAN AND ORGANIZATIONAL PERFORMANCE)
Pessoas cometem erros: mais cedo ou mais tarde ele vai acontecer. E precisamos estar prontos para ele.
Culpar não corrige nada: culpar é o caminho mais fácil, mais rápido, mas nunca resolve nenhum problema.
O contexto dirige o comportamento: o comportamento não ocorre no vácuo, existe um contexto, como dia Scott Geller. Entender as condições e pressões que o ambiente exerce sobre o trabalhador é fundamental.
Aprendizagem é vital: onde não há aprendizado não há sequer possibilidade de melhoria.
MELHORAR A PRESENÇA DA LIDERANÇA NA OPERAÇÃO
Relacionamento com o time: conceitualmente o gestor gere coisas, e o líder lidera pessoas. Infelizmente devido o volume a ser produzido, os líderes acabam se afastando da operação, se afastado dos liderados. O resultado é uma equipe desengajada, desmotivada, sem direção.
Pegar as pessoas fazendo o certo: quando o líder parabeniza o trabalhador, ele na verdade está apontando um caminho. E como o elogio é emocional, ele tem um peso enorme para garantir que o comportamento desejado volte a se repetir, podendo até se tornar um hábito.
Auxilie o time a acertar mais: a presença do líder + reconhecimento de quem faz o certo, é um investimento de tempo que vale muito a pena. Todas as empresas que possuem alta performance em segurança possuem líderes que ajudam o time a acertar.
CONCLUINDO
As intervenções de segurança precisam considerar a percepção de risco, e também reduzir o nível de risco que as pessoas estão dispostas a tolerar para ter sucesso na tarefa.
Uma das estratégias que certamente ajudam muito na percepção de risco é ter um programa de segurança comportamental bem implementado. Isso porque a base dele é justamente fortalecer a cultura de segurança, e com uma cultura forte, o efeito colateral é ter um time com a percepção de risco calibrada.
Bibliografia
https://iosh.com/media/5929/presentation-by-tina-on-risk-perception-to-safe-behaviour.pdf
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