Violações obrigatórias em segurança do trabalho
Violações obrigatórias em segurança do trabalho, você já ouviu falar sobre isso?
As regras são importantes? Claro que sim, mas entenda que por mais bem intencionado esteja o criador da regra, em alguns casos será impossível cumpri-la. Nesse artigo refletiremos a respeito desse assunto.
QUANDO O PREÇO DA REGRA É MUITO ALTO
O colega Carlos Massera costuma dizer que o comportamento é definido pela função ” Comportamento = f(benefício – custo)”. Essa é uma forma brilhande de descrever que quando o custo do comportamento é maior do que benefício, a conta ficará negativa, e provavelmente o comportamento não ocorrerá.
Algumas regras são frequentemente transgredidas pelo conjunto dos trabalhadores porque o custo de obedecê-las é muito alto, isso levando em conta as exigências do momento. Se um trabalhador é punido por transgredir esse tipo de regra, é provável que o grupo fique do lado do punido e contra o agente punidor.
O grupo pode se reunir e defender o colega punido explicitamente. Em ambientes onde o medo impera, os trabalhadores tenderão não se manifestar, mas às escuras podem simplesmente boicotar qualquer trabalho do agente punidor.
Quando o preço de cumprir a regra é muito caro, aplicar uma sanção pode acabar tirando todo o crédito da organização, ou seja, do setor de segurança do trabalho, dos líderes responsáveis, da hierarquia e das regras.
A VIOLAÇÃO QUE POSSIBILITA O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA
Toda violação deve ser condenada! Essa é uma frase que parece tão oportuna não é mesmo?
A verdade é que em muitas empresas mesmo violações voluntárias são aceitas no dia a dia, mesmo quando os profissionais de segurança não percebem ou concordem com isso.
Alguns sistemas por estarem mal configurados necessitam de violação para funcionar. Já imaginou o que aconteceria se todas às vezes em que faltasse uma ferramenta o trabalhador se recusasse trabalhar?
A dura verdade é que a gambiarra muitas vezes mantém o sistema funcionando… É uma ligação elétrica fora do projeto aqui, é uma ferramenta não projetada que acaba sendo utilizada ali, é o arame que amarra a betoneira, é o cinto de segurança paraquedista utilizado com conjunto não apropriado, etc.
Dias atrás em uma conversa num grupo focal para diagnóstico de cultura de segurança para uma empresa, um trabalhador me disse a seguinte frase “se eu for cumprir a PET (Permissão de Entrada e Trabalho), muitas vezes eu nem conseguirei trabalhar no espaço confinado. Eu teria que parar o serviço todo! Imagine como ficaria a imagem da empresa numa condição assim”.
Um dos problemas citados por ele é que a permissão de trabalho exige que o espaço confinado esteja estruturalmente seguro, e ausente de outras fontes de risco. O problema é que muitos espaços confinados da empresa possuem rachadura, possuem equipamentos energizados em seu interior. E isso inviabilizaria o trabalho.
A solução que o trabalhador encontrou é conveniente para empresa. Ele simplesmente escreve na permissão de entrada e trabalho que tudo está seguro, mesmo sabendo que não está. E se o pior acontecer, a empresa poderá alegar que não tinha conhecimento dos problemas encontrados no espaço confinado.
VIOLAÇÕES OBRIGATÓRIAS EM SEGURANÇA POR REGRAS INCOMPATÍVEIS
As regras incompatíveis podem tanto ser regras que possibilitem o funcionamento do sistema, ou regras que são incompatíveis por conta de ordens contraditórias.
Quem já trabalhou em empresa com mais de um dono sabe muito bem que nem sempre é fácil conciliar as regras que vem deles. Um manda colocar sal e outro manda tirar…
QUANDO O ERRADO SE TORNA ACEITÁVEL
Há casos onde um operador possui um estilo de trabalho perigoso, e que por isso é desaprovado pelo grupo. O problema é que nem sempre o coletivo de trabalhadores é influente o suficiente para fazer o trabalhador ver a razão. E quando a empresa não faz nada, isso pode acabar descredibilizando as iniciativas de segurança da própria organização.
Quando o comportamento errado se torna culturalmente aceito, pouco o setor de segurança poderá fazer. Mudar a cultura gasta muita energia, e exige a participação dos líderes, e nem sempre a organização está disposta a empreender energia nesse tipo de mudança, não é?
QUANDO A ORGANIZAÇÃO ESPERA DAR ERRADO PARA AGIR
Algumas empresas não agem em caso de violações que beneficiem o processo produtivo. Enquanto o trabalhador está violando as regras, mas produzindo bem, isso não é visto como um problema.
Quando a violação só é problema se o acidente ocorrer. Isso demonstra uma alta taxa de hipocrisia da organização, e também pode levar ao descrédito do setor de segurança aos líderes imediatos.
REFLEXÕES FINAIS SOBRE AS VIOLAÇÕES OBRIGATÓRIAS EM SEGURANÇA
Nem todas as regras são em incontornáveis, por exemplo, fumar numa refinaria é algo que jamais deveria acontecer.
Regras inaplicáveis podem minar todo o esforço que a organização está fazendo para ter uma cultura de segurança madura. de outra forma, a cultura comerá a segurança do trabalho no café da manhã. 😉
Antes de simplesmente resolver o problema colocando mais regras, a organização deve observar se as condições de trabalho permitem cumprir a regra.
É importante que a organização seja criteriosa ao adotar regras. Isso porque uma regra que não funciona compromete a confiabilidade das outras regras. E compromete até a imagem do setor de segurança e dos líderes.
Talvez, na sua empresa você até já ouviu frases como “as regras deles não funcionam aqui na operação!”. “No manual é uma coisa, na prática é outra”. “As regras do setor de segurança não funcionam na prática”.
Após todas as reflexões tiradas desse artigo preciso lhe perguntar:
- Que tipo de análise você faz na sua empresa antes de sugerir ou de implementar uma regra?
- Em algum momento você reflete se a regra é mesmo aplicável?
- Em algum momento pede a opinião do trabalhador para definir a aplicabilidade da regra?
E se precisar de nossa ajuda para definir as regras, entre em contato