Como evitar os acidentes de trabalho: Estratégias certeiras
Como evitar os acidentes de trabalho? Esse é um grande desafio em muitas organizações.
Ao tentar diminuir os acidentes de trabalho frequentemente vemos as empresas olhando para a direção errada. Em muitos casos até teorias relacionadas aos acidentes que deveriam ajudar, podem na verdade atrapalhar.
OLHANDO PARA AS PIRÂMIDES
As estatísticas das pirâmides da Dupont e Frank Bird dizem que “ações e omissões humanas contribuem para 70, 80 ou 90% dos acidentes”. Isso acaba levando a empresa a acreditar que o trabalhador é culpado pelo acidente de trabalho, e gera muita confusão sobre como melhorar a segurança.
As estatísticas que culpam os trabalhadores acabaram se tornando “lei” na mente de muitos gestores de SST que concluíram que, para melhorar o desempenho em segurança, é preciso mudar (consertar) o indivíduo para fazê-lo se comportar com segurança ou para seguir regras e procedimentos.
PARA ONDE DEVEMOS OLHAR ENTÃO
A este respeito, pesquisas e estudos de caso como apresentados nos livros The Psychology of Safety Handbook, The Field Guide to Understanding ‘Human Error’ e outros, não poderiam ser mais claros, “as mudanças comportamentais não podem ser alcançadas tentando mudar diretamente a pessoa, mas pela mudança do ambiente em que ela se encontra’”.
Nosso comportamento normalmente é fruto do ambiente. Já diria minha mãe, “me diga com quem tu andas que direito quem tu és”.
O que muita gente chama de erro humano normalmente é erro de processo, é erro organizacional. Abaixo listamos alguns itens importantes para que possamos evitar os acidentes de trabalho.
SE O PROBLEMA É O COMPORTAMENTO ENTÃO É FÁCIL CONSERTAR!
Já que entendemos que o problema é o trabalhador então a solução acaba sendo simples, não é? Basta investir em treinamento/educação, punição, mais regras:
– Treinamentos: não funcionam de forma isolada. Até porque ninguém muda só porque só porque outra pessoa diz para mudar.
A ineficiência do treinamento normalmente não está ligada a postura, entonação, tom de voz do orador/treinador (embora todos esses aspectos sejam importantes), mas ao simples fato de que apenas o treinamento ser insuficiente para mudar comportamento.
Você certamente já ouviu dezenas de vezes que não deve utilizar o cheque especial, que precisa se exercitar pelo menos 3 vezes por semana, que precisa abandonar o açúcar e que deve comer mais salada. Deixa eu te perguntar, você mudou depois de simplesmente ouvir uma palestra/orientação como essa? Claro que não!
Treinamentos devem ser parte da estratégia de gestão de riscos e gestão de comportamento, mas se utilizado de forma isolada é terrivelmente ineficiente.
– Punição: é muito boa para quem pune, porque sente que cumpriu seu dever, e é terrível para o punido porque ele se sente injustiçado, mal compreendido e sente medo.
É comum que uma pessoa punida perca a motivação de trabalhar na empresa, e que perca também a confiança em seu líder.
Punição pode até funcionar de imediato, mas é uma péssima medida de controle a médio e longo prazo.
PARA ONDE DEVEMOS OLHAR ENTÃO
A este respeito, pesquisas e estudos de caso como apresentados nos livros The Psychology of Safety Handbook, The Field Guide to Understanding ‘Human Error’ e outros, não poderiam ser mais claros, “as mudanças comportamentais não podem ser alcançadas tentando mudar diretamente a pessoa, mas pela mudança do ambiente em que ela se encontra’”.
Nosso comportamento normalmente é fruto do ambiente. Já diria minha mãe, “me diga com quem tu andas que direito quem tu és”.
O que muita gente chama de erro humano normalmente é erro de processo, é erro organizacional. Abaixo listamos alguns itens importantes para que possamos evitar os acidentes de trabalho.
PRINCÍPIOS BÁSICOS
– Fazer com que seja fácil o trabalhador adote comportamentos seguros: os EPIs são de fácil acesso? Ou o setor que os entrega, dificulta com que sejam entregues a qualquer tempo?
Porque em algumas empresas o Almoxarifado entrega tinta ao pintor a qualquer hora do dia, mas entrega EPIs somente em horário pré-determinado? Por acaso o EPI avisa quando chegará ao limite da vida útil?
– Ferramentas de trabalho: devem estar em bom estado de conservação. Em muitas empresas a gambiarra é obrigatória! E isso acontece porque faltam ferramentas básicas para que o trabalhador possa realizar seu trabalho.
– Limpeza e organização: ambiente desorganizado é quase um convite ao acidente de trabalho.
– Pressão por produção: infelizmente em algumas empresas, se o trabalhador faz mil peças num mês, no próximo a empresa irá querer mil e cem, e se no próximo ele faz mil e cem, a empresa irá querer no próximo mil e duzentos, e isso nunca para!
A pressão por produção pode ser um veneno para a produção segura. Quando mais pressionado o trabalhador está, mais estará no seu limite físico ou cognitivo, e mais sujeito estará ao “erro humano”.
– Conhecimento sobre o risco: o trabalhador entende o risco da atividade dele? O treinamento ministrado leva em conta as habilidades que ele precisa desenvolver para ter um trabalho seguro? Ele recebe nova orientação sempre que risco novo (produto químico, por exemplo) for inserido no trabalho dele?
– Liderança: ajuda a estimular e a educar os trabalhadores para que tenham comportamentos seguros? Ou ela não quer “sujar as mãos” com segurança do trabalho? O líder participa do DDS, SIPAT, etc. ou sempre está “ocupado demais para a segurança no trabalho”?
O trabalhador normalmente segue o líder dele! Se o líder deixa claro que aprecia os comportamentos seguros, chances são que o trabalhador entenderá que ao não se comportar de forma segura estará pondo seu emprego em risco.
Um exemplo do poder da autoridade aconteceu 1966 quando um pesquisador fez 22 chamadas telefônicas para várias divisões diferentes de um hospital pedindo que os enfermeiros aplicassem 20 miligramas do remédio Astrogem a um paciente específico da ala.
Os enfermeiros tinham pelo menos 4 motivos para não aplicar o medicamento:
- A prescrição foi transmitida por telefone: o que violava as regras do hospital.
- O medicamento não era autorizado: sem estar aprovado não estava sequer na lista de medicamentos da ala.
- Dosagem perigosa: a dosagem prescrita pelo “médico ao telefone” era 10 miligramas a mais, ou seja, 50% maior do que a dose máxima do medicamento.
- Instrução dada por alguém que o enfermeiro nunca tinha visto: o “médico ao telefone” sequer tinha sido visto alguma vez no hospital.
O mais assustador é que 95% dos enfermeiros não hesitaram em cumprir a ordem, mesmo tendo tantos motivos para fazê-lo!
Tudo indica que os enfermeiros simplesmente desligaram sua inteligência, ignoraram sua experiência e simplesmente cumpriram o pedido do médico. E claro que quando o enfermeiro ao chegar perto do paciente era impedido de aplicar o medicamento. Um pesquisador se apresentava e contava que se tratava de um experimento.
Pessoas seguem o líder, e em alguns casos o seguem até sem questionar. O líder que não se envolve com segurança do trabalho acaba deixando no ar a mensagem que não julga o assunto (segurança do trabalho) importante. E esse comportamento é extremamente prejudicial para ajudar a desenvolver a cultura de segurança.
– Direito de recusa ou comunicação de risco: o trabalhador possui a liberdade para falar sobre os riscos do trabalho? Possui autonomia para procurar o setor responsável se der de cara um algum risco inaceitável?
O direito de recusa está no texto da NR 1, mas para funcionar na empresa é preciso que seja criado o procedimento para acessá-lo e isso é até simples de fazer.
Basicamente o procedimento para acesso ao direito de recusa responde pelo menos. Se o trabalhador encontrar situação de risco inaceitável ele deverá falar com quem? Em qual setor? Por meio de qual formulário? E em qual setor ele poderá trabalhar (se confirmada a situação de risco inaceitável) até o risco seja controlado?
O ambiente de trabalho e a empresa exercem uma enorme força sobre os comportamentos dos trabalhadores.
É a cultura organizacional quem determina, ainda que de forma implícita, quais são os comportamentos que serão apoiados e recompensados pela empresa. Isso é o que chamamos de norma social da empresa.
A norma social é muito mais poderosa do que a norma escrita. Isso porque a norma escrita é vista apenas nos papéis, enquanto a social é vista nos comportamentos de todos.
– Aprender com acidentes passados: os acidentes ocorridos deixam lições importantes que não devem ser ignoradas pela organização. Acidentes recorrentes podem ser evitados se conseguirmos encontrar a sua causa raiz e contribuintes.
CONCLUÇÃO SOBRE COMO DIMINUIR OS ACIDENTES DE TRABALHO
A visão estreita de ver o problema como se estivesse dentro do indivíduo, atrapalha o aprendizado organizacional e se constitui uma barreira quase intransponível para o gerenciamento de riscos eficaz e para o progresso em segurança.
Existem ainda outras ações que podem ser tomadas para evitar os acidentes de trabalho, mas essas citadas no artigo são poderosíssimas.
Não é possível evitar os acidentes de trabalho fazendo apenas uma coisa. É importante que a empresa se organize em diversas frentes para que isso aconteça.
Se quiser saber mais sobre esse tipo de tema siga o nosso trabalho. Estamos sempre falando sobre temas ligados ao comportamento humano.
Se quiser entender o que está elevando o número de acidentes de trabalho na sua empresa, ou o que impede a maturidade de segurança de evoluir, contrate nossa avaliação de cultura de segurança.
Entender o estágio atual é o primeiro passo para traçar um caminho rumo a melhoria cultural, melhoria nos comportamentos esperados e a diminuição gradativa e sustentável dos acidentes de trabalho.
Bibliograficas:
https://www.linkedin.com/in/antonio-javier-gaspar-marichal-bsc-hons-cmiosh-techciehf-304194185/
Livro: Armas da Persuasão: Autor Robert Cialdini.
Livro: The Psychology of Safety Handbook. Autor Scott Geller.
Livro: The Field Guide to Understanding ‘Human Error’. Autor Sidney Dekker.